Um passo a frente sempre!
Corrida do Bradesco - PRIMEIRA VITÓRIA DA MINHA VIDA
Antes o circuito começava no Rio de Janeiro e terminava numa cidade no interior de São Paulo que não me recordo agora. Hoje se encerra na cidade carioca.
Foi um dia pra entrar na história!
Depois de tantos meses vendo colegas de corrida subindo no pódio e merecendo premiações ou geral ou por categoria, eu alimentava um desejo enorme e terrível de que uma hora chegaria a minha vez!
2 dias antes
no bradesco ali da Moraes Sales, procurei saber da corrida; e no sexto andar recebo a notícia de que acabaram as inscrições. Nem sabia por onde fazia; daí recebo esse "soco na cara". Horrível.
Mas daí tive a brilhante idéia de pegar minha bicicleta velha e sair pedalando desesperadamente até o taquaral, cruzando a cidade inteira, pra chegar lá e ver se arrumo alguma coisa.
1 dia antes
Não me recordo muito bem se a segunda frase acima aconteceu na sexta ou no sábado, só me lembro de ter ido pedir inscrição para um dos diretores - um carioca cabeludo - e ele me deu uma. Peguei minhas coisas e voltei pedalando pra casa. Não mais nervoso, mas pedalando da mesma forma.
Entrementes
Toda vez na hora da largada o nervosismo era tão grande que influenciava nos batimentos, musculatura, respiração.... no corpo inteiro! A ansiedade era incontrolável! Cheguei a fazer correntes de oração na igreja por anos para ver se baixava os níveis, pelo desespero que me encontrava.
E o dia chegou! No Taquaral, fiz minha parte; devo ter feito em 23 minutos de acordo com meu relógio. Vai ver esqueci de cronometrar direito. Fiz o que tinha que fazer.
Esperei o pessoal trazer os resultados e expor. Quando conferi, haviam 2 números - duas classificações - mas na hora não entendi. Até cheguei a perguntar pro "Paraibinha", um colega mais antigo de corridas ali do lado. Mas dentro de mim já sabia que seria premiado.
E FUI!
Pisei forte no chão quando o locutor disse meu nome completo!
Subi no pódio pela primeira vez, não me recordo de todos os rostos mas fiquei extremamente feliz. Até um companheiro de lá que também foi premiado por categoria me perguntou se iria pra Integração.
Tentei bater fotos com todo mundo o máximo que eu pude! Espalhei feliz o que eu tinha feito. O troféu de acrílico até hoje o tenho! Ele, a medalha e a camisa; que evito sair com ela pra não gastar!
Tem gente quer desde aquela época nas ruas daqui reconheço de vista por estar naquela área vip deles - nem sei pra que serve ou quem são aquelas pessoas - mas e daí? Estava feliz! Porém cansado demais.
Me lembro do último fotógrafo. E de uma forma resumida: "pego as fotos no site?" Ele disse: "sim, pega lá"!
Fui pra casa, queria mostrar pra meio mundo o que eu tinha ganhado! Depois de anos e anos sofrendo racismo, preconceito, perseguição na escola, por causa de igreja ou por causa de onde moro, era a primeira vez que uma coisa boa saiu!
Levei o troféu na Hidra, escritório ali na Glicério; os supostos "patrocinadores", a empresária "E.B.S." nem teve palavras; quis bater fotos e jogar na rede inteira. O patrocínio estava valendo a pena! A confiança estava sendo confirmada! O troféu veio numa boa hora em que um atleta deixava - na cabeça deles - se ser um gasto pra ser uma esperança.
Uma festa. Como sempre era só esperar as fotos aparecerem no site e eu jogar na rede.
Pois é.
E é aí que o sofrimento começa.
Até hoje NINGUÉM SABE ONDE ESTÁ A FOTO que tiraram para mim e os companheiros naquele dia do pódio. Nunca postaram! Existiam as fotos de todas as premiação, até 35-39 anos masculino. Cadê o restante? 20-24 anos?
Pois é...
Daria um carro, um prêmio da mega-sena, um contrato de patrocínio milionário, talvez um dedo, pra ter aquela foto. Entra ano e sai ano e NINGUÉM me fala nada.
NINGUÉM.
Tem sido uma ferida que deixou uma marca enorme; um vestígio de um tiro; uma lembrança que queria muito ter um registro. Eu contava com aquele fotógrafo e aquela foto em todas as minhas montagens, palestras, aulas escolares, faculdade, família, cultos na igreja, namoradas e por aí vai. Não se sabe se ele postou a foto, e antigamente o endereço da web que ele me deu era privado e só fui pegar a senha 2 anos depois quando o revi novamente e perguntei. Quando tive acesso ao site não estava lá; depois de um ano o site mudou o "host" e quando procurei as fotos dos anos anteriores não estava lá.
Sabe quando conversamos com pessoas e elas "falam" a sua língua? Antes eu pegava o telefone e e-mail das pessoas e contava com a boa vontade delas pra mandar e-mail. Quando jogavam as fotos nos sites pra baixar de graça ou pagando era só esperar 2 dias; tudo mudou. Era esta a impressão que tive do(s) fotógrafo(s) pois já nos vimos e... eu cansado e ele trabalhando a conversa tinha que ser direta e objetiva mesmo. Confiei neles ... e fui pra casa mais tranqüilo!
Estou esperando os dois dias mais longos da minha vida até hoje.
O pior de tudo isso é eu ter que deixar o link abaixo para provar que sou o atleta que ganhou aquele troféu na foto por saber que naqueles dias - e até agora - AINDA TEM GENTE que NESTA CIDADE e NAS DEMAIS que; vendo estas capacidades e outras me DESMERECEM por simplesmente eu ser NEGRO. Depois que essa ficha caiu meu comportamento mudou. E não espero que estas mesmas pessoas entendam meu caso . É por isso que "uma foto"... vale o quê? http://www.minhasinscricoes.com.br/rotinas/resultado/ResultadoCliente.aspx?id=11
Isso significa que a luta contra o racismo continuava. A piorar. Mas isso é história pra outro dia.
Não mais incomodo os setores responsáveis pela mídia por e-mail nem 0800 e nem quando há eventos e procuro informações.
Por esta razão, a vitória, este circuito é um dos que mais gosto de realizar.
Isso é tudo.