Um passo a frente sempre!
Casa Cor Ecorruning - VITÓRIA - PRIMEIRO PÓDIO DA MINHA VIDA
Me lembro de cada detalhe; mas tentarei resumir.
E eu sempre sonhei que um dia haveria corrida DENTRO do parque ecológico; ou seja, NA MINHA CASA! Suspeitei de algo parecido porque um ano antes havia visto de longe um evento no estacionamento da portaria 1. Com pórtico e tudo. Se eu soubesse, tinha ido correr lá sem inscrição; e deixaria meu treino de lado. Na época eu devia estar treinando numa janela a cada 3 ou 2 dias; não me recordo bem; teria que pegar meus arquivos e escrever aqui.
PRÉ-CORRIDA
A tensão é terrível. Esmagadora. Porquê? Havia uma certa cobrança, de correr "em casa" e ter de ganhar. Pensei muito nisso. E foi uma sensação muito legal sair de casa, sem precisar de ônibus e correr logo ali do lado...
Nem o café da manhã do evento me acalmou.
Tinha medo de tudo: de comer demais, de comer de menos, de passar mal por causa do café.... terrível!
PRÉ-LARGADA = 5 MINUTOS ANTES
Eu tentava respirar; disfarçar, me acalmar.Não estava resolvendo.Motivo: ansiedade e nervosismo. No mais alto nível. Estava perdendo o controle; a qualquer momento.... ia dar merda.
PRÉ-LARGADA = 3 MINUTOS ANTES
Quando tiraram fotos do meu tênis; quando percebi, olhei no relógio; faltava pouco para as 09h.
Minha cabeça devia ter rodado. O coração.... nem sei se batia mais....
PRÉ-LARGADA = UM MINUTO ANTES
Perdi a força no pulso. Perdi a força no joelho. Perdi a força no pescoço. Perdi a estabilidade da coluna. Estava passando mal em pé. Estava com problemas. Estava disfarçando. Se dissessem hoje que eu estava prestes a morrer... eu não sabia.
Pensei muuuuuuuuuuita besteira; era de morrer; era de ir embora; era de acidente; era de cortar caminho; era de explosão de bomba sei lá onde; queda de avião.... sei lá porquê...
Cadê o treinamento psicológico. Não tive. E aí?
LARGADA!
Não ouvi mais nada; me lembro que antes da buzina e da contagem regressiva irritante do locutor tocava Pitbull na época [I Know You Want Me]. O único problema é que só tocava essa música o tempo todo; não trocavam. Já era um motivo a mais pra irritação.
Olhei pra frente, fiz a curva que já fazia milhares de vezes, e fui embora. Disparei. Queria estar na frente; como era o planejado.
Até hoje queria saber quem é esse cara de azul que me acompanhou por um tempo. Nunca vi mais gordo. Me irritou um pouco; sei lá porquê. Mas no momento eu já não queria saber de mais nada. Música alta no mp3 e correndo, só olhava pra frente.
E a respiração, pulsação, ansiedade, nervosismo, tudo no limite. Era esmagador. E perigoso.
Ninguém faz idéia.
E nessa parte eu "larguei" a passada. Ganhei uma bela distância do grupo que vinha atrás, só que este mesmo grupo já era experiente faz tempo. Quando beiramos o lago, não me recordo bem, mas o baço já começava a dar sinais de reclamação.
Ali era o km 1,5.
E foi nessa hora aqui que entrei de novo em profunda decepção.
Porque eu já subia esta ladeirinha aqui centenas de vezes, às vezes evitava, ás vezes subia; chuva sol vento.... tudo. Estava com tênis novo, conhecia o terreno. E aí? Onde eu errei? Devia estar lá na frente. O corpo não respondia o que a mente mandava. Fiquei em quinto lugar depois do participante ali atrás. Pensei ser o sétimo porque nem vi mais o cara de azul e nem sei se subiu a ladeira. E havia outro participante sem inscrição que deve ter passado sei lá que horas ou cortou caminho.
Não sei mais, alguma coisa estava errada.
Preste atenção na minha
Pior que o desgosto; não o medo de ouvir ladainha; mas o desgosto de ter que estar um dia com certas pessoas e ter que explicar pra elas porque que não ganhei em primeiro colocado sendo que todos esperavam isso. Ué, mas quem estava ajudando? Quem pagou o tênis da Baby? Quem tirou meu nome do SPC?
Por causa dessas coisas e de inúmeras piadinhas e conversas sem sentido que comecei, correndo, a ficar mais desesperado. Aumentei a passada. Técnicos e formados diriam que eu estava passando do limite da hiperventilação. Se isso acontecer, pelo que estudei hoje, é problema! Ou cardíaco ou sei lá. Mas iria dar merda!
O pior foram todas as promessas feitas antes da corrida caso eu ganhasse. Os meus problemas que tenho com o esporte acabariam. Já era o tênis velho! Já era o tênis de $50 que só vale por um mês! Já era o "ki-chute"! Já era a humilhação de pedir carona em ônibus! Já era a falta de condições. Bem vindo as coisas boas.... Era nisso que eu confiava e fiz todas as apostas nesse dia.
Mas não foi isso o que eu vi. Por causa destas possíveis situações que uma hora ou outra aconteceriam assim que eu perdi a liderança As besteiras vieram na cabeça que nem viciados pra cima de iniciantes na cracolândia. Usei a comparação pra ter uma idéia da podridão que me veio. NÃO SEI EXPLICAR O MOTIVO!
Eu rangia os dentes de raiva. Não lembro de ter bebido água, só olhava pra frente.
Pra quem for ao parque ecológico, tem umas quadras que dá pra ver o "horizonte" e as ruas fazendo curva. Na esperança de ver algum participante enfraquecendo, poderia alcançá-lo vendo-o de longe; aí era "fazer as contas". Cadê eles? Não vi ninguém.
Na minha cabeça a corrida estava perdida.
Antes de chegar aqui; na distância 6,5km, pensei que uma lombada me faria tropeçar. Pensei em tudo o que se achar de ruim. Estava sozinho. Quase chorei de raiva, rangia os dentes de tanta raiva, respirava pela boca, salivei muito. Fiz a curva, corri em direção ao "Quero-"quero"; ong local, onde está na mesma direção da barraca laranja.
Aí eu faço a próxima curva.
E vejo a faixa de chegada, erguida na mão de duas moças lindas de lá. Nem olhei pra elas. Nem acreditava. Aquilo era um sonho!
E depois de muito tempo,
de muita coisa boa
e ruim, eu
FINALMENTE
CRUZO A FAIXA!
Não me lembro quem me deu a medalha depois disso.
E não me recordo o que veio primeiro: se eu tinha feito as contas certo e deduzi ser o quinto colocado ou vendo a faixa e a dúvida se resolveu; os dois participantes não passaram na faixa nem estavam inscritos.
Já vi atletas tirando fotos depois da corrida, do jeito que saem dela. Se desejava ver uma cara mais bonita; um loiro de olho azul sorrindo.... entrou no blog errado.
E era a primeira vez que minha família saiu de casa pra me ver ser premiado.
Ah, e olharam as duas com cara feia. Porque ganhei? NÃO! POR SEREM NEGRAS!
Só foram tocar neste assunto meses depois do evento.
É este um dos maiores problemas que enfrento no Brasil!
Mas o troféu já não poderiam tirar.
Minha mãe me obrigou a comer o café da manhã; nada entrava no estômago. O corpo doía inteiro! Estava prestes a vomitar. Estava cansado; zonzo; cabeça doía, chegou a quase dar enxaqueca.As horas foram passando. Não sei como fiquei de pé depois daquilo.Havia a premiação. Nem sabia como tinha que me reagir. Tive de esperar.
Era um sonho. Chamaram meu nome. Tinha vergonha na época de escrever meu nome completo. Hoje não. O locutor tem que, lógico, fazer a graça dele. Engraçado ter chamado por "Pablo Santos" de maneira "artística"... por assim dizer.
Meu... era um sonho!
Quando subi ao pódio, nem sabia que lado ficaria. Até tinha uma mulher lá orientando; que de mim fez pouco caso (me lembro muito bem porque a postura dela naquele dia.... vixe...) .
Recebo a premiação do mesmo que me deu a inscrição. O mesmo que me deu o cartão na corrida do Boldrini no mesmo ano.
Aplausos da galera depois disso foi um fechamento.
Custei a acreditar que eu tinha aquilo na mãoPostei no orkut; pouquíssimas pessoas comentaram. O troféu é pesado, lindo, e era o primeiro de um pódio geral. O segundo na linha de sucessão.Aqui é a parede velha de casa. Ainda tenho todas as medalhas. O sonho era encher a parede com todas elas.
Os dias passaram, retornei depois de 7 ou 8 dias para os treinos; tudo era promessa mas pouca coisa se realizou. Me recordo de pisar mais firme e confiante no chão. E agora ninguém poderia falar que nunca ganhei e zombar em cima disso.
Talvez seja este o outro prêmio que o atletismo traz. Respeito.
O pessoalzinho cheio de preconceitos estavam falando, provavelmente, menos. O cerco estava se fechando. As opções, acabando.
Depois daquele dia, acredite, muita coisa subliminar mudou.
Ainda tem muito a fazer.
Isso é tudo que me recordo.